segunda-feira, janeiro 28, 2008



Mas é carnaval!

“ Hoje o samba saiu, procurando você...”, música insistente que serve de trilha sonora para o meu não saber escrever. Hoje, as palavras não saem, é um daqueles dias em que elas deixaram de existir ou me deixaram de lado. Não sei compor samba, nem lamentar tristezas, amores possíveis. Eis que chego a conclusão que hoje sou uma pessoa que sente medo. Quem dera pudéssemos sair na rua, cantando despreocupadamente qualquer melodia triste que chora a sua partida. Estranho, você chegou. Você veio, eu permaneci, aqui eu estou. Estou com as minhas letras solitárias, com meus sonhos sufocados, com o meu samba tocando sem parar...eu devia saber compor algumas músicas, dedilhar um violão ou ser definitivamente corajosa de abrir a porta e ir embora. Lá no fundo, eu sabia. Como qualquer ser puramente mortal, eu gosto de me enganar de vez em quando. Meu samba, meu lamento. A vida passando, eu na avenida, você na janela me acenando, em meio aquela festa toda. Talvez, todo carnaval tenha mesmo seu fim...ou um recomeço. Eu ainda acredito na segunda opção. No cenário que me cerca, o povo dança, existe até uma bandeira, alguns pandeiros, o cordão. Existe festa, aquele abraço do encontro, a alegria por não haver despedida. Você é a música que eu tento compor enquanto o mundo samba, a melodia engasgada que se ouve apenas sinais vitais no barracão que faz a minha festa.Você é o confete lançado no meio do barulho do tambor, a serpentina que cai de forma maleável no chão. Somos nós, em meio a toda esta bagunça que se chama felicidade. Aos bambas do samba ela é passageira, a meros mortais ela é um segundo soprado naquele momento eterno. Para mim, ela é a poesia que inunda nossa vida de forma mágica e confusa. É carnaval, hora de colocar as fantasias, escolher a máscara e enganar a tristeza. Eis o samba, procurando você, esperando a sua chegada concreta, o grito de carnaval já foi dado. É hora de matar as saudades, de fazer parte desta festa que a gente preparou com tanto empenho...tirando a máscara, usando nossas roupas normais..“Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria... Se você sentir saudade, por favor, não dê na vista. Bate palma com vontade, faz de conta que é turista...”

Trilha sonora: "Quem te viu, quem te vê" ( Chico Buarque de Holanda)

Texto: Nathalia B. Triveloni.

Ilustração: Guto Chaves.

quarta-feira, janeiro 23, 2008



Vida de menina

Engana-se quem começa falando das meninas com um "Era uma vez". Meninas são muito mais que algumas palavras escritas em um diário ou numa daquelas revistas que diz com quem voce deve gastar o batom em um primeiro beijo.
Falar de meninas tem gosto, tem cheiro. Meninas são seres agridoces. Elas separam os dias chuvosos daqueles todos radiantes. São poetisas de uma vida normal, mas cheia de drama.
Mente quem diz que as meninas não são boxeadoras de primeira, pergunte para quem já as feriu alguma vez.
Meninas são Fernandas Montenegros, atrizes de uma vida cheia de acontecimentos. São comediantes quando estão felizes, vilãs quando se sentem ameaçadas, mocinhas quando amam e solitárias quando qualquer enredo torna vazio o palco que escolheram para ensaiar...
Mente quem diz que meninas preferem sempre os príncipes encantados. Elas são bem mais os sapos, aqueles bichanos que podem viver na terra e na água, que pode até não ter beleza, mas encantam de uma forma charmosa. Meninas acreditam no beijo que quebra qualquer encanto ou nem precisa quebrar, mas rola um sentimento.
Meninas sofrem, elas choram, são deixadas algum dia. Contudo, meninas também dizem adeus enquanto ouvem uma música que alerta para uma outra vida cheia de expectativas.
Meninas sabem ser cruéis e adoráveis ao mesmo tempo. Dizem que o Raul se inspirou no seu lado feminino para escrever "Metamorfose ambulante".
Meninas inventam e reinventam a vida, mesmo quando o mundo desaba. São aquele tipo de gente que junta os cacos, lava o rosto, corta o cabelo e recomeça do zero.
Bruxas, fadas, seguidoras de passarinhos gordos cantarolantes, tripulantes da grama-mãe que levita com balões...Meninas, aquelas que serão o grande amor da sua vida, a pessoa responsável pela destruição do seu mundo ou...até mesmo voce.

Texto: Nathalia B. Triveloni.

Ilustração: Fábio Favaro.

quarta-feira, janeiro 02, 2008


Casinha (ou a lâmpada).

No escondido. Naquele lugar que é só meu, que apenas eu posso saber como chegar e qual é a entrada. O meu lugar, onde eu guardo o segredo da vida, o sentimento conturbado presente na falta e na saudade.
O meu lugar que agora você mora. Mora da forma clara, da forma confortável e feliz. Você mora bagunçando minha vida, atrapalhando a sua. Mora sem dor, no horizonte da expectativa em uma esperança de verdade.
Aqui é o seu lugar secreto, escondido, porém, livre.
E foi aqui que eu te guardei, que você foi gerado, que você ganhou espaço, formas e palavras. Aqui você é sentimento e vida... a dor, fica do lado de fora.
O seu barulho ao avisar a tua chegada, a trilha sonora que se encaixa com perfeição durante minhas poesias. Aqui você vive e se torna imortal.
Você existe e não existe, mas para mim, você é o quase real.
Texto: Nathalia B. Triveloni.
Ilustração: Jamerson Lima (Ninhol).