segunda-feira, fevereiro 01, 2010



Sopro

Segundos antes de começar. O papel amassado ainda está em branco. Penso, logo existo ou existo porque penso? Optei por pensar e fazer nascer algo incerto, mas que já está aqui.
Imaginando tudo o que fiz e esperando aquilo que está por vir, a criatividade nasce. Neste momento, sou pequena partícula formando algo ou alguém que ainda desconheço. Tomando forma, enchendo meus olhos, deslizando minha caneta, viajando naquilo que ainda não foi descoberto... silêncio! Estou contando uma estória.
Era uma vez o pó que, soprado com vida, ganhou formas e se fez existir. Ele provou, ele criou, ele se fez concreto... Talvez algum dia, aquilo que criei evapore e não sobre nenhuma poeira, além desta aqui, pra provar que ele foi real.


Texto: Nathalia Belisse Triveloni

Ilustração: Paulo Bruno

quinta-feira, janeiro 21, 2010






Maternidade

Caras pessoas,
Minha coluna desta semana não vem citar um livro ou falar de filmes e lugares inspiradores para alimentarmos nosso espírito artístico. Hoje, escrevo um desabafo. Não consigo permanecer calada diante de tantos acontecimentos que estamos acompanhando. Eu não me remeto apenas a estes que chegaram junto com 2010, mas de uma evolução de perdas. Perde-se casa, perde-se referência, identidade... Muito além disso, estamos diante da perda de humanidade. Acabo de ler um artigo, no qual a ecologista reitera que não devemos nos questionar apenas sobre que tipo de mundo deixaremos para os nosso filhos, mas que filhos deixaremos para este mundo. Concordo.
Devido ao meu trabalho com crianças e adolescentes, muitas pessoas me perguntam se não tenho vontade de ter um filho. Tenho sim, mas não por uma obrigação social. A verdade é que não imagino a minha vida sem ser mãe. No entanto, o que venho dizer é que o fato de não ter biologicamente gerado uma vida, não me faça genitora de algo que me impactou, causou em mim uma reflexão e me fez gerar sonhos ou mudanças em um mundo que se apresenta tão caótico.
Não pensem que eu não tenho medo de errar com as crianças que a mim, carinhosamente, são confiadas. Da mesma forma, o receio se faz presente quando imagino que serei responsável por um ser e pela base que este terá. Contudo, uma coisa é certa: A principal semente que plantarei sobre sua vida será o desejo que ele nunca perca sua humanidade.
Quando falo de humanidade, e propositalmente esta palavra se repetirá aqui, me refiro ao respeito. Respeitar o mundo que a ele será dado, as pessoas que caminham ao seu lado e aquelas que estão em qualquer parte do mundo. Tentar passar para ele o sentimento de inconformidade diante de gente que morre de fome, de um mundo que faz guerra e transforma a natureza e os seres humanos em simples números a serem contabilizados.
Que filho eu quero deixar para o mundo? Aquele que nascerá da minha auto-avaliação e que diante de qualquer impacto nascerá da minha vontade de transformar tanta tragédia em possibilidades. O filho que pretendo deixar não é apenas uma pessoa. Começo desde já, assim como a fecundação que é a partida de qualquer atividade genitora, a ter o meu filho. O futuro é agora.
Espero que a leitura deste texto tenha sido o princípio de um fecundar e que, a partir disso, possamos nos dar a possibilidade de engravidarmos de presente para que no futuro possam existir filhos e mundo.


Ilustração: Martina Viegas

Texto: Nathalia B. Triveloni para www.therelli.com/blog

quarta-feira, novembro 25, 2009




Folkas


E foi preparada uma festa. A música era diferente, cigana como os ventos que vinham do norte e dispersavam os espaços. Era noite em que se deitar no chão virava brincadeira e os passos eram marcados pelas gaitas estrangeiras, por instrumentos esquisitos.

Música estranha que vira roda, que gira o mundo, que espanta tristeza. Ela se deitou e , enquanto fechava os olhos, ele desenha uma história ao seu redor. Com giz, marcava as linhas que um dia seriam apagadas pelo tempo. Quem se importa? Os segundos, estagnados ali, eram guiados por pequenas estrelas que ele pediu para que o céu mandasse para que ela fosse iluminada.

Naquele momento, ali existia um menino e a ciranda que ele decidiu entrar pra saber viver. Era doce! E perdido naquele sabor musicado, ele se transformava naquilo que foi um dia e escondia agora.

Dizem por aí que quem conheceu a estória conta que aquela era uma festa, tinha música, felicidade, cores... e foi assim, de verdade. Tudo ali acontecia, mas com um sentimento que, quem tá de fora, seria capaz de imaginar.

Ainda quando velho, sentado embaixo de sua árvore preferida que brotou no momento em que ela se jogou na terra, ele lembrava de cada fração de tempo que o ensinou a viver. Foram apenas 5 minutos de festa pra um menino que descobria o amor, mas isso aos olhos dos outros.

Para ele, foi a eternidade que jamais lhe presentearam novamente.


Texto: Nathalia Belisse Triveloni

Ilustração: Silvio Pequeno

quarta-feira, setembro 16, 2009





Alguém

Não, desta vez eu não farei texto referente a esta foto do meu olho. Aliás, eu a coloquei aí, pois esta sou eu e aqui vou contar algo que faz parte da minha história.
Semana passada, abri o orkut e um guri, com seus 16 anos, me pediu para adicioná-lo. Fiquei tentando lembrar quem era, se fazia parte de meus alunos ou algo parecido. Confesso que eu o adicionei para poder mandar uma mensagem que me esclarecesse aquela que ele explicitava a sua felicidade por ter me encontrado ali. Escrevi um pequeno texto e, horas depois, ele me respondeu. Tempos atrás, o menino achou um texto meu, em um painel de um concurso literário que sempre participo e se encantou com o que eu havia escrito. Desde então, ele procurava todos os meus outros escritos na internet. Segundo ele, abusando da sorte, decidiu me procurar por estes sites sociáveis para dizer o quanto admira meu trabalho e como queria falar comigo.
Eu fiquei muito, mas muito impactada. Nestes 8 anos que escrevo, recebi três mensagens destas que o tempo, as dificuldades e tudo mais jamais apagarão. Saber que alguém é impactado por sua obra não tem preço!

Foto: Carol Loução

Texto: Nathalia B. Triveloni

terça-feira, junho 09, 2009



Em branco

Do tudo, só o nada persiste. O meu nada é cheio de coisas, todas correndo ao mesmo tempo e se desmanchando no ar. O concreto evaporou e, agora, a folha branca aguarda o meu espaço pra tentar contar uma história. Difícil, ela quer a minha história.
Ok! Meu castelo ruiu e só me resta uma mochila, você (esta folha) e ar nos meus pulmões.
Disseram que a vida é feita de desconstruções e elas são tudo o que temos. Então quer dizer que do pó viemos e das suas partículas temos que achar o caminho?
Respirando, respirando...eu vou achar, eu vou me achar nisto tudo, ainda bagunçado, mas que fala o que eu sou. Muito além da tatuagem na minha pele, tenho gravado em mim átomos de vida. Nelas, meus sonhos, os tijolos, pedras no caminho, flores cultivadas, espaço sideral, vento. Corações partidos, metades, o mar, tesouros achados, tempo quase perdido e viagens. Assim, chego à conclusão que eu me tenho. O que fazer com tudo isso? O que fazer de mim?
Eu vou fazer o que quiser. A maior dádiva da vida é ter a chance de recomeçar...

Texto: Nathalia B. Triveloni
Ilustração: Manassés Machado. Londres- Maio de 2009.

quinta-feira, março 19, 2009




Sabe os girassóis? Aquelas flores amarelas, grandes, tão desajeitadas? Muito prazer. Aqui, é a história do meu girassol que encontrou alguém por quem a inspiração brota de uma forma tão forte que faz com que tudo faça ou não sentido.
Uma flor que escrevia se inspirando no mundo, nas injustiças, na sede por aquilo que é grande, mas nunca soube falar do amor em suas palavras.
Um dia, o girassol murchou, as pétalas caíram e ele pensou muitas vezes que nem sementes poderia deixar, já que o mundo estava seco e a única prova de vida era aquele coração em pedaços e úmido, bem úmido.
Contudo, girassol que é girassol, sabe voltar à vida se encontra alguém que saiba cultiva-lo com muito carinho. As minhas sementes existiam e, com aquilo que se chama de amizade, uma enorme luz soube faze-las renascer. Os pedaços daquela flor foram se reconstruindo, achando seu espaço no mundo e crescendo com aquele sentimento tão bom, mas tão bom, que o mundo era pequeno demais pra caber aquele pulsar tão cheio de vida.
Como boa flor, ela se derramava em pétalas, pois aquela luz a ajudava crescer, crescer, fazendo com que tantas vezes ela alcançasse o céu. Ali, ela existia, ela era vida e sorriso de uma forma inexplicável. Mas como explicar um presente daqueles? Como falar pro mundo que uma luz foi capaz de passar dias e dias só te vendo se desmanchar e anos, dois anos, te ajudando a colher suas partes e se fazer de novo?
O Girassol teve vontade de escrever, mas não sabia como. Algumas pessoas haviam passado por sua vida, mas nenhuma teve dela uma palavra se quer. Ela tentou, sabia que aquilo era tão importante quanto nascer de novo. O que seria aquela profusão de sentimentos que o cercava?
A flor, frágil e forte ao mesmo tempo, percebeu que era impossível escrever a sua história se sua luz não fizesse parte dela. Ela desabrochou novamente e se entregou aquilo que chamam de amor. Aquela loucura que cultiva borboletas no estômago, que torna o mundo colorido, que nos faz sofrer também, mas que nos preenche tanto que nada mais faz sentido.
O Girassol escreveu, e escreveu e escreveu. Agora, ele podia contar ao mundo que o amor é real e mesmo que a eternidade tenha 1 segundo, ela existe. O Girassol vive, com alegrias, algumas tristezas, mas tem aquela luz ao seu lado, numa troca de vida, de sonhos, de felicidade. Ele agradece a Deus, por ter feito a natureza perfeita para plantas e luminosidades tão sem perfeição.
Ah, amor! Faz da vida uma canção, um papel que cabe num texto, um jardim que recomeça, um céu que muda conforme o nosso humor. A minha arte compondo a luz que a desenha e a faz existir de uma forma diferente...

“Tú me acostumbraste
A todas esas cosas
Y tú me enseñaste
Que son maravilhosas...”

Texto:
Nathalia B. Triveloni

Ilustração: Maurício Araújo

quarta-feira, março 11, 2009




"Você não sabe o quanto caminhei pra chegar até aqui..."

Dificilmente, faço deste espaço um diário direto. Ando escrevendo muito sobre os girrassóis e, sem dúvida alguma, me considero um deles. Sou meio esquisita, utópica, na real, acho que tudo isso nada mais é do que características de quem acredita, tem fé e coragem.
Amanhã, será um grande dia. Pegarei um canudo vazio e ele me dará um profissão. Contudo, não sou um número, um crachá, um diploma. Eu sou alguém que, mesmo depois de 4 anos de lutas, aprendizados, de castelos derrubados e convicções construídas, ainda acredita que "Estamos aqui pela humanidade".
Eu, com meu jeito inocente, com a característica de artista de sonhos, ainda acredito que tudo pode ser diferente e começa só pelo primeiro passo de olhar a pessoa que está do meu lado.
Nada foi em vão, nem mesmo aquelas aulas inúteis que te ensinam a como agradar seu chefe, eu aproveitava e fazia poesias nelas. Eu acho que minha maior faculdade foi a vida, as pessoas que me fizeram querer ser alguém melhor, que me permitiram errar, que me ajudaram nos acertos e a perceber que somos gente. Gente fraca, gente forte, gentu junto, enfim, gente!
Hoje, posso dizer que sou bem diferente daquela menina que pintou o rosto de preto, se encheu de adesivo e gritava "Chega de bomba, chega de ataque, fora imperialismo do Iraque". Hoje, aquela guria está mais madura, mas não perdeu seus sonhos. A garotinha de cabelos vermelhos continua viva e mais criança do que nunca, mais munida de perguntas, respostas e vontade de mudar a caretice toda. Como é bom não perder a fé na humanidade e, principalmente em nós mesmos. "Você acredita em Deus? Como, se é uma cientista?". Ah, baby, eu nunca fui muito convencional mesmo. Acredito sim, como acredito que a maior preciosidade que alguém tem é a própria inocência e os sonhos permitindo com que esta pessoa saiba que é capaz de fazer diferente e ser a diferença por isso.
Adorei este desenho não só pelo carinho que ele foi feito, mas porque meu cabelo mudou, tá curto. Sim, meu caro, é uma metáfora. "as coisas velhas passaram e tudo se fez novo".


Hoje, é um novo dia =D

Texto: Nathalia B. Triveloni

Ilustração: Zitone