quinta-feira, março 15, 2007

Bandeira...

A minha taça ergo em nome da embriaguez mais válida. Não uso éter, me despojo do etílico. Minha embriaguez inunda a alma de uma poção que é fruto de uma sede de existir, de paixão, daquilo que inspira e faz com que meus poros transpirem vida.
Minha embriaguez é saudável, porém, faz com que minha cabeça gire em rotação universal e meu corpo saia fora de qualquer órbita. Nesta embolada, nesta profusão de cores e gostos, aquilo que se perpetua em minha visão torna-se poesia. Embalo cada sentimento, cada leitura, através de uma dança mística, que não reza pra chuva, que não pede proteção de nenhum santo. Ela envolve as descobertas e alimenta ainda mais sonhos profanos, porém, divinos...
Minha taça eu ergo em louvor da liberdade, de todas elas, de cada artista que ousou empunhar o pincel e pintar o mundo, de cada mensageiro que impregnou minha alma com os acordes de sua guitarra, de cada ser humano que vive e não apenas existe!
Ergo minha taça a todos os deuses, a todos os homens que transformam os sons, as cores, as palavras em prece!
Minha taça está erguida. Do líquido santo oriundo de qualquer vegetal, meu sangue passa a ser composto e, de seu melaço, a poesia se faz com festa... Minha embriaguez se faz presente em cada surto filósofico, em cada grito libertário, na quebra de rotinas caretas, no terror que se causa quando aquilo que é planejado cai por terra... novas possibilidades se erguem.
Ergo minha taça a todos aqueles que ousam, que fazem, que existem, que não passam pelo mundo sem deixar qualquer marca. Minha taça, nas alturas, para celebrar a confissão de liberdade.

Texto: Nathalia B. Triveloni.
Ilustração: Daniel Chastinet.

segunda-feira, março 05, 2007


Batalha Daliniana...
Entrei na ciranda da vida e, quando a noite caiu, eu queria adormecer o medo meu. Nesta fantasia extremamente surreal, milhões de monstros povoavam o telhado da minha imaginação. Seria uma saga sem igual cada passo que eu daria, cada milímetro de céu que decidi habitar. Armas foram lançadas, mas, graças a qualquer Ser supremo, as balas eram de festim e o corte não seria profundo. Neste eclipse total lunar, naquela noite, o impossível era uma realidade feita de concreto e as dúvidas deixavam de habitar telhas, permeando nos vidros. Nem monstros, nem nada, era nos meus sonhos, nos vôos mais rasantes que a liberdade e a vitória sobre toda e qualquer criatura do mal estavam presentes. Meus bonecos ganharam vida e tornaram-se soldados que combatiam um mundo repleto de escuridão. Nas minhas mãos, messias eram encarnados e todo monstro derretia sem explicação. Em cima do meu telhado, a batalha entre o real e o possível era travada. Contudo, na busca por uma fonte renovadora de criatividade, meus olhos e todas as personagens da minha história exploravam o mais sublime e majestoso de todos os medos: a impossibilidade. Dentro de mim e desta história, o impossível será possível nesta e em todas as noites... o Sol nasceu.
Texto: Nathalia B. Triveloni.
Ilustração: Daniel Chastinet.