segunda-feira, fevereiro 26, 2007


Farewell...



Estranhos seres habitam a Terra. Através de uma análise cotidiana, percebemos o quão exóticos são eles, principalmente quando estão diante de sensações novas e que lhes despertam reações. Muitos são os caminhos tomados. Há aqueles que embarcam em um disco voador, afim de que uma tecnologia rara e eficaz consiga apagar de sua mente, corpo e espírito qualquer marca e os façam caminhar novamente em um equilíbrio incerto. Contagem regressiva e o adeus se torna eterno. Em um outro planeta de uma mesma galáxia, um mundo protegido se constrói. Suas colunas são dificadas daquilo que mais saudade sufoca, que mais lembranças persistem. Um planeta único, solitário, onde apenas um barulho dialético impera: O Vazio. E assim, nesta atmosfera de sofrimento, de tristeza, de amor pungente e cortante, este planeta se torna cada vez mais distante e encontra o seu próprio lugar, descobrindo assim seu verdadeiro habitat: o coração daqueles que ainda não acreditam em uma nova possibilidade. Mas, o tempo, o qual neste mundo também não pode ser contado em anos luz, é sábio e vai curando cada ferida, cicatrizando cada abertura, deixando apenas uma singela tatuagem para eternizar tudo o que um dia se petrificou e se tornou imortal, inesquecível e repleto de caminhos. Estes serviram para mostrar que uma nova vida é possível, que o planeta solitário tem de ser deixado e que existe um mundo difícil, mas que a vida nele, por mais constrangedora que seja, é bela, é intensa e que todo este aprendizado será a ponte que nos ligará a lugares comuns, clichês. Contudo, a vida é feita de paixões, encontros, desencontros, despedidas, agradecimentos e de cartas... Com este recomeço esperançoso, porém ainda dolorido, palavras são lançadas ao espaço na esperança de que um astronauta a encontre e nos leve de volta à Terra... é hora de voltar para casa...Farewell

Texto: Nathalia Triveloni
Ilustração: Rodrigo Habib ( Xixita)

terça-feira, fevereiro 20, 2007


Sobre todas as coisas...
Hoje, os meus olhos se voltaram para um espelho. O Reflexo dele atingia não só o meu interior, mas mostrava tudo aquilo que ocorre ao meu redor. Eu vi um mundo diferente daquele que um dia eu imaginei habitar, um mundo cruel, desumano, no qual a palavra que impera é o abandono. Pensei na existência de Deus. Na minha opinião, nossa imaginação veloz nos fez crer que Ele habita algum lugar supremo, intocável... Pois é, estranho é acreditar em algo que não podemos ver, nem tocar, porém podemos sentir. Sentimos Deus, pois Ele não habita estrela alguma, Ele vive em cada ser humano. Por mais que os meus olhos sejam testemunhas de tantas mazelas, o Deus que mora dentro de mim me faz acreditar em pessoas melhores, em um amor verdadeiro, o qual é capaz de transformar, de ressucitar e gerar uma vida, uma atmosfera composta de realidade e impulsionada por sonhos. Acredito que tantos fatos ocorrem, pois criamos, no mais íntimo de nossa imaginação, uma imagem santificada de um Messias e esquecemos que nós mesmos nos submetemos ao fruto de nossa criação. Se todos realmente enxergassem que a divindade está em nós, em nossa mais pura essência, talvez fossemos poupados de tanta selvageria e respeitaríamos os nossos semelhantes, na medida do possível, não lhes causando mal algum. Ainda acredito no poder renovador da divindade que habita em mim e, por isso, os meus sonhos de transformação não morrerm quando cobrem qualquer espelho. Deus existe.
Texto: Nathalia B. Triveloni.
Ilustração: Carlos Marques ( Kaka).

domingo, fevereiro 11, 2007


Sobre macacos e homens...
Aprendi que os meus antepassados eram macacos e, com sua evidente evolução se transformaram na incompleta raça humana. Aprendi que, assim como eles, temos de lutar por uma sobrevivência que, muitas vezes, não deixa de ser uma seleção natural, parte integrante da luta eminente da selvageria. Aprendi muitas coisas que nos tornam iguais e outras que nos diferem dos bichanos. Dizem que a nossa principal diferença consiste no plano das idéias. Somos suficientemente capazes de ser racionais, enquanto eles agem pelo mais puro instinto. Discordo disso. Acho que muitas vezes somos mais instintivos do que pensadores, mais animais do que civilizados. Contudo, o que para mim realmente nos difere é a quantidade de olhos existentes. Os macacos possuem dois, os quais permitem com que sua visão seja precisa, sem alusões ou maiores dificuldades de interpretação. Neste contexto, olhares objetivos são lançados ante a uma realidade nada formal. Mas e os nossos ? Neste caso, não temos dois olhos, mas apenas um. Este único olho não é igual, é repleto de parcialidade. Por mais que seja diverso, cada pessoa que o possui acredita piamente que aquela é a unica visão, a unitária maneira de se ver o mundo e as construções edificadas nele. Assim como os macacos, os homens se organizam em bandos e estes, por sua vez, possuem características próprias. Por terem apenas um olhar, guerras são feitas em nome de um Deus, o qual é único, mas possui diversas interpretações, são feitas por causa de um espaço físico, o qual é muito mais ideologico do que concreto. Por causa de uma verdade absoluta inexistente, a música é impedida de ser tocada sem que haja um atrito, uma luta entre seus defensores e opositores. Por causa deste olhar só e muitas vezes mesquinho, vidas são consumidas e limadas em nome de uma liberdade forjada. E, por este caminho diverso, porém, único e parcial, o mundo torna-se a selva que anteriormente foi dominada por nós e, agora, nos domina.
Há aqueles que conseguem dividir o único olho em fragmentos de diversidade, porém, existem os que continuam acreditando que aquele olho é indivisível, genuíno e correto... Assim,deixando a visão de lado, percebo que nossos antepassados são mais vivos em nós do que imaginamos...
Texto: Nathalia B. Triveloni.
Ilustração: Goreti Carlos.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007


O Grande Circo

Nascemos no centro do picadeiro e, neste exato momento, os holofotes se unem para iluminar o grande espetáculo. Os primeiros passos são efetuados na corda bamba: É o início da carreira de Equilibrista. De sombrinha, com medo, aquele tênue fio nos separa dos sonhos. Sim, vamos cair diversas vezes, mas nada nos impedirá de tentar, afinal nem sempre o outro lado do mundo é o limite. Com o tempo, percebemos que a vida está em nossas mãos: É hora de fazer malabares. Cada bolinha representa o futuro...Será impossível mantê-las sempre em harmonia. A platéia anseia pelo palhaço: É hora de sorrir, de trazer alegria, de impulsionar sonhos. Existirão momentos em que será difícil encontrar tanta felicidade. Nesta hora, começamos pelo macacão, depois a peruca, o nariz vermelho, os sapatos coloridos e, do fundo da gente, tentamos fazer as outras pessoas sorrirem. Talvez, a personagem não seja capaz de curar o coração enfermo. Não há problema, atrás da cortina é permitido tirar a maquiagem, o palhaço tem o direito de chorar. Espere, eis que surge o mágico!Ele leva um lenço até o pierrô, enxuga suas lágrimas e transforma o pano em flor! Neste ensaio, o amor é celebrado pelos saltos do trapezista e a leveza da bailarina. Haverá uma platéia que, muitas vezes, te aplaudirá de pé, porém, poderá se calar. Este é o nosso show, somos um pouco de cada artista, porém, somos humanos.

Texto: Nathalia B. Triveloni, publicado na Caros Amigos em junho de 2006.
Ilustração: Lucas Manoel Pinduca.