quinta-feira, dezembro 28, 2006

Silêncio motor numérico.

Hoje é o tempo do silêncio. Na atmosfera da fábrica, o único barulho que se houve são os homens cabisbaixos caminhando em direção a um futuro incerto.
É tempo de pensar e passar. Passar a vida a limpo, pois sabe-se que agora a engrenagem parou. Dizem que nem mesmo o mais feroz óleo fará com que ela volte a funcionar.
No papel, uma cota restrista de ração diária se apresenta. O frio é mais cortante quando a realidade se torna miserável:
1800 olhos marejados
1800 sonhos confiscados.
1800 casas sem telhados.
1800 panelas sem caldos.
1800 mãos calejadas paradas.
1800 cachaças com mágoas.
1800 famílias rasgadas.
1800 dignidades cortadas.
1800 homens-máquinas-números substituídos pela ambição voraz de um vil metal, papel rasgável que vale, na visão grotesta da selvageria, mais do que 1800 seres humanos.

Texto: Nath Triveloni sobre as demissões na Volks. Publicado na Revista Caros Amigos e cotado para um futuro projeto da Revista PUC-SP.
Foto: Silêncio em Paranapiacaba - Nath Triveloni.

1 Comments:

At 1:34 AM, Blogger Egon Zakuska said...

Esta é, sem dúvida, uma de suas poesias mais profundas e tocantes. Não há quem não a leia e entre em pensamentos... nela você consegue o objetivo da crítica. Linda poesia!

 

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