terça-feira, janeiro 16, 2007
A Reza do sertão
Na terra onde dizem que Deus esqueceu de ouvir, desde que se encontra na barriga da mãe se aprende a rezar.
É reza por vida ou por um sopro dela,
É reza para que o menino vingue, reza para que ele tenha forças pra chorar.
É reza pro leite não secar no peito murcho, desnutrido.
É reza para aquele guri ter uma gota de qualquer líquido santo que o consiga alimentar.
Rezam para não cruzarem com a morte no sono da madrugada.
Rezam pro sol dar descanso.
Rezam para o céu chorar: Chover.
Rezam para conseguirem a carcaça do bicho que sucumbiu à seca.
Rezam para o cacto encher os buchos contentes com qualquer coisa que desça a seco.
Rezam para conseguirem um canto naquele pau-de-arara.
Rezam pra cidade grande chegar logo.
Rezam por uma vida melhor.
Rezam pro emprego nascer.
Rezam por qualquer casa, qualquer barraco que os proteja da tão querida chuva.
Rezam para que um dia os reconheçam.
Pararam de rezar, pois, o susto de ser barrado onde suas mãos construíram abalou a fé.
Atenção!
A terra batida do sertão deu lugar ao concreto frio da cidade.
Tudo continua igual, a “sustança” não lhes valeu a identidade.
É tempo de rezar para ver se algum sinal do Céu desce.
Texto: Nathalia Triveloni.
Ilustração: Lucas Manoel (Lucas Pinduca).
6 Comments:
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Quando vi a arte do senhor Lucas Manoel eu me encantei. Ele soube exprimri a essência do maravilhoso texto da Naná em um desenho fantástico. Tanto imagem quanto textos estão perfeitos, belos de se ver, apesar do tema ter seu lado negativo (o texto é positivo por abrir uma série de possibilidades para mudanças sociais. É arte como forma de ativismo, pura e simplesmente!).
Parabéns à dupla! Creio que sou mais um que aguarda ansiosamente por mais parcerias destas!
a ilustra está bem legal e gostei muito do texto.
demonstra com exatidão a carência de esperanças de um povo sofrido e essa cultura de apoio na fé como único modo de rebeldia em relação à uma realidade dura e nada promissora.
:*
era eu
Nath, sou fã da sua sensibilidade. Acho que essa palavra combina com seus textos...que sabem tocar!
Parabéns e a bela ilustra do Lucas também!
beijos.
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